Para impedir fechamentos

Federação de clubes de tiro move ação coletiva contra decreto 11.615

Sem novo decreto de armas, um entidade de Santa Catarina, que representa 120 clubes de tiro e lojas de PCE, busca o Judiciário para garantir as atividades de seus associados

Federação catarinense busca garantir atividade dos clubes de tiro associados
Federação catarinense busca garantir atividade de clubes de tiro associados por via judicial (Adobe)

Ante a falta de perspectiva da publicação do novo decreto de armas, a FECCASC (Federação de Clubes de Tiro e Comércio de Armas de Santa Catarina), que representa 120 clubes de tiro e lojas de armas e munições, vai ingressar na Justiça para tentar preservar a operação das empresas filiadas à instituição.

Presidida por Fabi Venera, também proprietária de um clube de tiro e organizadora da feira de armas TexasExpoTiro, a federação tem associados em todo o país.

A entidade surgiu ao final de 2022, ante uma necessidade de união do setor, conta Venera ao THE GUN TRADE.

Ela diz que, desde então, a associação tem se reunido, a fim de decidir movimentos coletivos, como a colocada nessa ação, que tenta manter a atividade dos clubes de tiro localizados a menos de 1km de entidades de ensino, imposta pelo decreto 11.615/2023.

“Temos vários clubes centários, que vieram muitos antes das escolas [localizadas a menos de 1km]. Eles não podem fechar por conta de um decreto”, diz.

O THE GUN TRADE mostrou que 1.847 clubes de tiro podem fechar sem a publicação de um novo decreto, que altere a regra de distanciamento entre as entidades e as escolas.

Venera exemplifica o caso com o Clube de Caça e Tiro Araújo Brusque, do interior catarinense, um dos mais antigos da América Latina, fundado em 1866.

“Ele fica a 300 metros de uma escola, que veio muito depois”, diz.

Direito adquirido e ‘ato jurídico perfeito’ embasam ação

A entidade contratou o advogado Marcelo Barazal, conhecido como ‘Dr. Beretta‘, para mover esse processo, bem como uma outra ação coletiva para atiradores esportivos (leia mais abaixo).

“Temos o direito adquirido e o ato jurídico perfeito”, diz Barazal, sobre a argumentação legal que embasa ação, citando ainda o princípio constitucional da manutenção da atividade econômica.

“Se o governo quiser criar uma legislação para que daqui para a frente novos clubes não abram, isso está dentro da legalidade. O que não se pode fazer é retroagir”, afirma. “Temos clubes tombados pelo patrimônio histórico.”

O advogado diz que a regra imposta pelo decreto do governo federal atinge centenas de clubes de tiro, “que investiram milhões de reais e passaram por várias burocracias para funcionarem”.

“Tiveram que comprar placas balísticas, isolamentos acústicos (…) e agora vem um decreto —não é nem uma lei—e diz que o clube tem que fechar a partir de janeiro de 2025. Isso cria uma insegurança jurídica gigantesca.”

Em relação ao novo decreto de armas, que foi acordado entre o Congresso e o governo federal e até hoje não publicado, Barazal diz que não haveria problema do texto sair após a judicialização das regras.

“Não há nenhum ônus em entrar com essa ação, pois se o decreto sair, o que eu duvido que aconteça, ela perde seu objeto”, diz o jurista.

Entidade abrirá associação para CACs e vai entrar com outra ação coletiva, sobre validade de CRs e CRAFs

A FECCASC, que em breve vai abrir associação para despachantes, IATs (Instrutores de Tiro e Armamento) e CACs (Caçadores, Atiradores e Colecionadores, vai também judicializar a validade dos CRs (Certificados de Registro) e CRAFs (Certificado de Registro de Arma de Fogo).

Como fez a CBTT (Confederação Brasileira de Tiro Tático), de Giovanni Roncalli, a entidade tentará garantir a validade original de 10 anos dos documentos de todos seus associados, com uma ação coletiva.

O advogado também será Barazal, que já move dezenas de processos sobre o tema no Judiciário, com julgamentos já na 2ª instância.