Com dois anos e oito meses do início da guerra da Ucrânia, que parece não ter fim, e outros teatros de operações se abrindo no mundo, como a guerra no Oriente Médio, com cada vez mais protagonistas, a Taurus Armas têm vislumbrado uma expansão de seus investimentos em produtos voltados ao mercado militar.
Entre os planos, está até mesmo a produção de metralhadoras pesadas .50 BMG, segundo o CEO da fabricante gaúcha, Salesio Nuhs, em entrevista ao THE GUN TRADE, realizada em São Paulo.
“Todos esses conflitos têm consumido os estoques estratégicos de defesa no mundo”, diz o CEO.
Ele enxerga uma demanda futura do setor de defesa em nível global para esse tipo de produto.
“Ultimamente temos dito que precisamos entrar mais no mercado militar e de Law Enforcement. Estamos ampliando nosso portfólio”, afirma o executivo, citando os últimos lançamentos da empresa, focados nesses setores.
Nos últimos anos, a Taurus lançou vários fuzis na plataforma AR, como o T4, no tradicional 5,56x45mm, e também em .300 BLK (Blackout); um T10 (AR10), em 7,62x51mm e um T9 (AR-9mm). “Todos esses fuzis que produzimos já fazem parte desse plano”, diz.
A empresa prepara, ainda, o lançamento de uma nova submetralhadora ‘ultraleve’ e de uma inédita pistola militar. “A ideia é ampliar muito esse portfólio militar”, afirma Nuhs.
.50 da Taurus Armas: Empresa avalia produção
O CEO revela um projeto, ainda incipiente, está sendo estudado pela empresa: o de produzir rifles e metralhadoras no famoso calibre .50 BMG (Browning Machine Gun).
Também conhecido como “12,7×99mm NATO“, o .50 entrou em serviço há mais de 100 anos e é amplamente utilizado no mundo, servindo em metralhadoras portáteis fixas em automóveis e helicópteros, e também em modernos fuzis de precisão.
Indagado sobre a viabilidade desse tipo de produto na fábrica da Taurus, ele responde que produzir armas nesse calibre é algo totalmente diferente dos já fabricados pela empresa.
“É como você ter uma montadora de carros e ir produzir caminhões, são coisas totalmente diferentes. É outro maquinário. Exige um grande investimento”, diz.
A Taurus atualmente avalia a viabilidade do projeto, bem como seu local de produção, ante as inúmeras operações da empresa ao redor do mundo, e seus desafios.
“No Brasil, temos a questão do embargo diplomático. Conseguiremos exportar?”, indaga, colocando que a operação global da empresa hoje permite explorar outras diplomacias.
“Pode ser na Índia, na Arábia Saudita, na Turquia”, diz, sobre conversas com novos parceiros.
Sauditas na mira…
A Taurus assinou, em dezembro do ano passado, um acordo de joint venture com a Scopa Military Industries, a fim de avaliar a viabilidade de uma fábrica no território saudita.
Sobre a parceria, Salesio afirma que a fabricante gaúcha apresentou um plano de localização de uma nova fábrica, para produzir todo o portfólio militar de armas da Taurus, incluindo todos os fuzis e a nova pistola. “E num curto espaço de tempo, cerca de dois anos”, diz.
Ele ressalta que também incluiu a proposta “.50” no projeto, a fim de atrair mais visibilidade para o acordo com Scopa. Porém, seria um plano mais longo. “Coisa de oito anos.”
A única pendência atual sobre a parceria, revela, é saber se o governo saudita vai se comprometer com o projeto. “Precisamos de um comprador”, afirma, argumentando que não há mercado civil local, e que o foco é a venda para o setor militar.
“É um plano audacioso, no qual temos muita expectativa.”
…e turcos também
O CEO esteve também na Turquia, em outubro, acompanhado pela diretoria de Engenharia e Novos Negócios. Segundo ele, o país hoje é o “principal concorrente da Taurus”.
“Se você pega as empresas americanas, como a Ruger, a Smith & Wesson, os resultados não estão bons. Agora, as empresas da Turquia estão crescendo muito, em todo o mundo”, diz.
A expansão se deve, segundo o CEO, ao fato de que o governo turco, há cerca de 12 anos, passou a liberar licenças para a fabricação de armas de defesa, e recentemente tem estimulado e concedido benefícios ao setor.
O resultado foi uma “robusta indústria de armas leves no país”, que produz um portfólio completo —do calibre .22 LR até o .50 BMG.
Com isso, a Turquia ganhou fabricantes conhecidas em nível internacional, como a Sarsilmaz e a Canik, que chega ao Brasil de olho nas licitações policiais, como noticiou o THE GUN TRADE.
Sobre o resultado da visita, Salesio afirma que ainda não houve nenhum negócio fechado, e que a indústria local está bem preparada para lidar com a demanda global.
Diz, no entanto, que vê possíveis parcerias com alguns players locais, tanto para o segmento civil quanto para o militar, mas não dá detalhes.
Índia: megalicitação pode ter teste final em breve
Na Índia, onde a Taurus começou a operar no início do ano, a empresa já tem vendido pistolas no mercado civil, e ganhou uma licitação de 500 submetralhadoras para a polícia.
No entanto, a expectativa maior é sobre a megalicitação de mais de 425 mil fuzis para o Exército Indiano, que a fabricante gaúcha segue disputando.
“Os últimos testes devem ser realizados entre novembro e dezembro”, diz o CEO. Ele conta que o país asiático está testando o T4, fuzil da empresa escolhido para a disputa, há mais de um ano. “É um país muito burocrático”, diz.
Salesio relata também que, na conjuntura atual, com o mundo demandando cada vez mais armas, o vencedor do pleito talvez não consiga atender à produção exigida.
No caso, o fabricante de armas vencedor pode optar por fornecer apenas 60% das armas, dando o restante da produção ao segundo colocado.
“Temos concorrentes com uma grande demanda no momento, caso de Israel“, diz Salesio. Indagado sobre se a Taurus atenderia a 100% do pedido caso vença, ele responde: “Com certeza”.
Na operação civil, a Taurus tem produzido por volta de 500 armas por mês para esse mercado, conta o CEO.
Ele diz que a fabricante gaúcha ainda está qualificando seus fornecedores locais, visto que é tudo “100% made in India” e que nenhuma peça pode ser enviada do Brasil para lá.
O mercado local é pequeno, conta, com somente 8 mil licenças emitidas para a posse de armas neste ano, sendo que cada um dá direito a duas armas. “Mas as margens são boas”, relata o executivo.