A fabricante turca Canik Arms vê no Brasil o mercado latino mais promissor para suas pistolas, mas ante a restrição do calibre 9mm, está focando suas operações locais no mercado policial, segundo a vice-presidente da empresa, Didem Aral.
Ela conversou com o THE GUN TRADE durante a COP International, realizada de 16 a 18 de outubro, em São Paulo. Integrante da família que fundou a Canik, Didem conta que o público consumidor do país, tanto civil quanto institucional, é um grande atrativo para a companhia, que na América Latina já marca presença em outros cinco países: El Salvador, Guatemala, Panamá, Uruguai e Costa Rica.
“O Brasil ainda é nosso maior potencial da região”, afirma. Ela conta que antes das eleições a empresa já planejava se estabelecer no país, mas que as novas políticas sobre armas atrasou a chegada da fabricante. “Respeitamos as decisões políticas do povo brasileiro, mas de fato tudo ficou mais restrito para nossos negócios”, diz.
A Canik hoje conta com seis fábricas: quatro na Turquia, uma no Reino Unido e outra nos EUA, em West Palm Beach, Flórida. “Ainda assim, mantemos nossa presença no mercado”, diz. São 1.100 funcionários ao todo, com um faturamento anual de US$ 200 milhões (R$ 1,14 bilhão).
Glockiller
Segundo Didem, o povo brasileiro “tem um grande interesse e uma sólida cultura de armas”. “Vocês conhecem as armas, amam as armas e estão próximos da América do Norte, onde somos muito fortes”, diz, sobre a operação nos EUA.
Ela conta que por lá, a empresa é conhecida como Glockiller [matadora de Glocks]. “Operamos no mercado americano desde 2012, então, há sinergia com o mercado brasileiro”, diz. No território americano, ela prevê produzir 150 mil pistolas no próximo ano, na fábrica da Flórida, e também entrar no mercado das micro-compactas. “Porque o porte velado é o mais popular no mercado dos Estados Unidos”, justifica.
Em busca da primeira vitória no mercado policial
Para as polícias do Brasil, a Canik tenta emplacar suas pistolas da linha Mete, que possui atualmente 11 modelos diferentes, voltadas às forças de segurança, através das licitações locais.
Na feira policial, onde a companhia chegou com um grande estande, a fabricante turca dedicou metade do espaço a essa categoria.
Apesar da presença, a Canik ainda não conquistou ainda nenhuma licitação, mas segundo representantes da empresa, está se colocando em várias, e já chegou longe, com “preços atrativos”.
A outra parte do espaço era de uma linha voltada ao público civil, com pistolas em calibre restrito. É o caso da pistola Canik Taran Tactical, uma das armas da saga de cinema John Wick, que vai entrar na acirrada disputa de espaço entre os CACs (Caçadores, Atiradores e Caçadores) nível 3, com acesso a esses produtos.
Sobre pistolas em calibre .380 ACP, a executiva diz estudar alguns projetos para o Brasil, mas não dá detalhes.
Distribuição exclusiva: CBA
No Brasil, a Canik faz parceria com a distribuidora CBA (Companhia Brasileira de Armas) em 2022.
“Eles estão nesse ramo há muito tempo e cuidam de várias marcas famosas de armas de fogo em sua história”, afirma Didem sobre o parceiro local.
A CBA detém com exclusividade a marca Canik no Brasil e está atualmente trabalhando tanto nas ofertas para o mercado civil, através do varejo, quanto no mercado institucional.
Foco global nos pesos-pesados
Para além das pistolas, a Canik quer aumentar a presença em outro mercado.
“Entramos no segmento de defesa pesada”, diz Didem, sobre o ingresso na empresa no setor militar. Ela conta que a fábrica no Reino Unido, por exemplo, é focada na produção de canhões de médio calibre, de 30mm e 113mm.
“Nossas pistolas ainda são muito populares, mas estamos expandindo a linha de produção e o posicionamento financeiro para incluir metralhadoras pesadas e canhões”, diz.
Segundo a executiva, tudo isso faz parte do projeto da empresa para ter maior participação militar no mundo. Na Turquia, a empresa realizou um investimento recente de US$ 25 milhões (R$ 142 milhões) para a nova sede da empresa, em Instambul, conta Didem.
Por lá, a Canik também prepara uma academia, para treinamento dos usuários finais, sejam civis, policiais ou militares. “Será uma linha bem mais profissional, como a academia Sig Sauer”, diz Didem.